Cris Guterres

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Opinião

SXSW: Solidão no trabalho, amizade feminina e o que realmente nos conecta

Cheguei ao SXSW 2025 cheia de empolgação, tentando absorver tudo ao mesmo tempo. Mas, logo na palestra de abertura, um tema me pegou de jeito: a solidão no ambiente de trabalho. No meio de um festival que fala sobre inovação, inteligência artificial e criatividade, um dos primeiros alertas foi sobre algo essencialmente humano: a necessidade de conexão.

A especialista Kasley Killam trouxe um dado impactante: a solidão não é só um problema emocional, mas um fator que afeta diretamente a produtividade, a criatividade e a retenção de talentos. Pessoas solitárias no trabalho são mais propensas a se desligar emocionalmente da empresa, a se sentirem menos valorizadas e, consequentemente, a serem menos inovadoras.

A solução? Criar ambientes onde as relações humanas realmente importam.

Mas o que ficou martelando na minha cabeça depois dessa palestra foi: estamos realmente preocupados com a saúde mental ou só queremos garantir que as pessoas continuem produzindo sem quebrar? Cuidar da mente deveria ser um direito, não uma estratégia de negócio. Mas quantas vezes a gente escuta sobre saúde mental apenas como um meio para melhorar a performance no trabalho? Se a produtividade não fosse uma moeda tão valiosa, será que ainda estaríamos falando tanto sobre isso?

Essa reflexão me levou a pensar além do ambiente corporativo. Se no trabalho a solidão pode nos desmotivar e nos desconectar, o que dizer da vida pessoal? Especialmente quando falamos de amizade feminina, que tantas vezes é tratada como algo "bonitinho", mas sem real importância.

Enquanto a "broderagem masculina" é louvada como essencial para negócios, parcerias e fortalecimento profissional, as relações entre mulheres são frequentemente vistas como supérfluas - quando, na verdade, são um pilar de suporte emocional, profissional e até criativo.

A conexão entre mulheres não é apenas sobre trocar mensagens fofas ou marcar um café de vez em quando. É sobre rede de apoio, sobre segurança, sobre saber que tem alguém ali quando tudo desmorona. Uma pesquisa publicada no Journal of Health and Social Behavior já mostrou que mulheres que mantêm amizades próximas têm níveis menores de estresse, menor risco de depressão e até uma expectativa de vida maior. Ou seja, a conexão entre mulheres não é só emocionalmente benéfica, mas também um fator de saúde mental e física.

Mas e aquelas pessoas mais introspectivas? E quem sente que a socialização consome energia? O que fazer quando a ideia de conexão parece mais um peso do que um alívio?

A resposta, segundo os especialistas, não é forçar encontros ou criar relações artificiais, mas sim valorizar a profundidade das conexões que já existem. Muitas vezes, uma conversa sincera com uma amiga próxima vale mais do que estar rodeada de gente o tempo todo. Não é sobre quantidade, mas sobre qualidade.

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Voltando ao festival, depois desse primeiro painel, assisti a discussões sobre o impacto da economia criativa e um futuro mais sustentável. Mas fiquei com essa pergunta martelando na cabeça: estamos nos conectando de verdade ou apenas nos cercando de pessoas sem realmente nos aprofundarmos?

Seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal, parece que a chave não está em conhecer mais gente, mas em investir nas relações que realmente fazem sentido.

E, se a solidão pode nos desmotivar e nos desconectar, talvez a amizade feminina seja uma das respostas mais poderosas para um mundo que insiste em nos manter isoladas e que ela seja feita para que sejamos felizes e não meras ferramentas do capitalismo. Será que é possível?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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